domingo, 26 de maio de 2013

Olhe de Novo, Minha Foquinha"Dancing the Dream" (1992)




Uma das fotos da natureza mais tocantes é de um filhote de foca deitado no gelo. Tenho certeza de que já viu esta foto – os olhos negros e confiantes deste pequeno animal fitam profundamente a câmera e vão direto ao coração. Quando eu os vi pela primeira vez, eles me perguntaram:

- Você vai me machucar?

Eu sabia que a resposta seria sim, pois milhares de filhotes de foca são mortos todos os anos.

Muitos se sentiram tocados pelo desamparo desta foquinha. Fizeram doações para salvá-la, e a opinião pública começou a mudar. Quando olhei para a foto de novo, aqueles imensos olhos me disseram outra coisa.

Agora, perguntavam?

- Você me conhece?

Desta vez, não senti a mesma mágoa diante da violência que o homem inflige aos animais. Mas percebi que ainda havia uma longa distância a ser percorrida. O que eu realmente sabia sobre a vida na Terra? Que responsabilidade eu tinha por criaturas fora do meu pequeno habitat? De que forma deveria conduzir a minha vida para que cada célula de matéria viva também se beneficiasse?

Todos que se preocuparam com essas coisas, eu creio, deixaram de temer e passaram a encarar a vida de outro modo. A beleza e as maravilhas da existência tornaram-se pessoais; a chance de transformar o planeta num jardim onde todos possam crescer começou a surgir. Encarei a foquinha e, pela primeira vez, seus olhos sorriram:

-Obrigada! – eles disseram. – Você me deu esperança.

Isso é suficiente? Esperança e uma palavra tão bonita, mas, às vezes, parece frágil demais. 

Ainda se fere e se destrói a vida sem necessidade. A imagem de uma foquinha deitada no gelo ou de uma órfã de guerra ainda assusta por seu desamparo. Percebi que nada salvaria a vida no planeta, senão a confiança na própria vida, em seu poder de cura, na capacidade de superar os nossos erros, e de nos aceitar, depois de aprendemos a corrigi-los.

Pensando nisso, observei de novo a foto. Olhar da foca agora parecia mais profundo, e percebi algo que não vira antes: uma força inquebrantável.

- Você não me feriu – eles disseram. – Não sou apenas uma foquinha. Sou a vida, e a vida não pode ser eliminada. É a força que me trouxe do vácuo sideral; cuidou de mim e preservou minha vida contra todos os perigos. Sinto- me seguro, porque eu sou essa força. Assim como você. Fique comigo, e sintamos a força da existência juntos, como uma única criatura sobre a Terra.

Foquinha, pedoe-nos. Continue vigiando o nosso caminho. Esses homens, que a sacrificam a marretadas, também são pais, filhos e irmãos que têm famílias, que eles amam e cuidam. Um dia, eles também a amarão.

Tenha certeza e confie.


FONTE: Texto retirado do livro ‘A Dança dos Sonhos’ versão brasileira

TRADUÇÃO: Thereza Christina



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